quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Eu sou de (cá)rnaval.

Nessa onda de ir e vir, vida de marinheiro sem destino, a mercê das datas e atribuições definidas por aquém. Eis que, meu maior desejo anual, aquela paixão descomedida de 9,98 em cada 10 Recifenses e Olindeneses, vai pelo beleleu.

Depois de alguns lindos anos, várias fantasias vermelha e amarela, verde e rosa e otras cositas mais, este ano eu não vou me embriagar de alegria no calor das ladeiras de Olinda.
Esse ano eu não vou reencontrar todo mundo que eu gosto tanto, e que transpira alegria no carnaval.

Não vai ter concentração lá em casa, nem na casa de Castanha. Não vai ter macaxeira com carne de sol, nem sanduiche com carne moída, que mainha fez reclamando mas adorando a folia.

Não vou voltar de ônibus de Olinda, nem vai ter pitstop com sonequinha na sala antes de levar chuva ao som de Lenine no Recife Antigo.

As prévias do blocos líricos, dos velhos carnavais que já não voltam mais desde 1940, estão já por lá, na rua do Bom Jesus, na praça do Arsenal, mas eu não.
Os ensaios do bloco da saudade, no Clube Nautico, cheio de velhinhos e velhinhas, estão lá. Mas eu não.
A cidade, as fantasias, em grupo ou não, feita com tanto capricho pela minha costureira atrasada favorita, não vai sair. Jó esse ano vai sentir minha falta.
Minha manha, minha pechincha, minhas ligações, e as ligações das meninas dizendo, faltando 5 dias pra Sala da Justiça: "Oi, Jó. Eu sou amiga de Cecília, vê só..."

Eu não vou beber cerveja quente. Não vou aguentar Rafinha bebado, não vou receber milhões de abraços e ficar com a bochecha suada com purpurina colada.
O Eu Acho é Pouco vai, por que é bom demais, mas eu fico.
E o ressoante "Puta que pariu, é a maior ladeira do Brasil", às 8 da noite, depois de serelepar o dia inteiro, não vai parecer tão divertido assim quando eu contar pra alguém que não é de (cá)rnaval.

Esse ano Zé não vai poder dizer que eu beijo todo mundo na bochecha.
Nem vai reclamar do sol ao meio dia na frente do MAC.

Eu sou de (cá)rnaval. E meu coração é igual. Lá, ou em qualquer lugar, eu sou de (cá)rnaval de Recife e Olinda. Eu sou de cá. E meu pé, olhos e coração vai tá aí, juntinho de cada um dos meus companheiros de folia.

Pra abrir a coluna de (cá)rnaval. Um VT lindo do governo do estado de PE. Produzido pela Urso, com direção de Paulo Caldas. Pq é assim mesmo que a gente se prepara, desde janeiro, pra a qualquer som de Clarins de Momo, a gente freviocar.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Impressões de Curitiba I

Primeiro, eu estou encantada com Curitiba, é muito bom saber que no Brasil tem uma capital assim.
E olhe que eu conheço um mói de capitá, e mais meio mundo de cidade pelo Brasil afora. Os anos de movimento estudantil me deram muita experiência em ônibus cheio de estudantes e interminavéis horas pelo Sertão da Bahia para chegar em qualquer lugar. E nada nem se compara com isso aqui.
As janelas das casas não tem grade, muro é uma coisa rara, só aqueles gradeados, sempre levificados(do verbo ficar mais leve) com jardinzinhos e flores. A cidade tem um monte de lei contra a especulação imobiliária e é proibido fazer prédios altos. Sendo assim, o lugar é tomado por bairros de casas, alguns com prediozinhos baixinhos e charmosos, a maioria sem altura nem pra elevador. E tem uns dois bairros, fora o centro, onde liberaram para construir prédios grandes, mas eles já são mais afastados do centrão.

A cidade é repleta de parques enormes e praçinhas. O parques são bem grandes, com lago e mata atlantica no meio. Que você sai pra caminhar, entra na "florestinha" pelo caminho asfaltado feito para fazer só caminhada, bicicletada e patinzada, e se perde no meio dar árvores de copa densa e retorcida. Muitas vezes, as copas das árvores dos lados opostos da estrada se emendam, e vc tá lá no meio, sem sequer, perceber a luz do sol. É lindo.

Tem a onda das praças em homenagem aos países, Japão, Ucrania, Espanha e mais um monte, onde aquele pedacinho da cidade é uma imitaçãozinha, com coisas características do país titulado.
E o passeio público é o que dá mais dó, uma zoológico de aves silvestres no meio do centro da cidade. São aves lindas, presas em viveiros, para o povo ver e da pipoca. Isso é triste.

Mas além disso, nos parques têm capivaras, quero-queros, esquilos, patos, cisnes, tartaruga, peixes, e mais um monte de aves coloridas e bonitas que ficam pelos parques, vivendo em tranqüilidade, sem medo o homem.
Tem canteiros de flores por todos os lugares, públicos principalmente. O jardim botânico daqui tem um lugar pra criar as plantas de cada estação(pq aqui se tem cada estação) e mudam todas as plantas dos jardins e canteiros públicos 4 vezes por ano, e as plantinhas são sempre de acordo com o tempo e o clima.

E como aqui não tem praia, os parques são as praias da pessoas, que sempre que faz um sol, tomam conta do lugar, p fazer encontros de grupos sociais, sejam velhinhas, famílias, skatitas, crianças, hippies, ou esportistas. Tem uma lei também que proibi o som alto nos parques, e tem um carro da polícia em cada um. O resultado é que a paz reina, sem risco de algum bocó abrir o som do carro e colocar funk.


Tem caldo de cana pra vender em cada esquina, o carro equipado com a máquina de moer atrás, entupido de abelhas pra todos os lados. E você escolhe se é puro, com limão ou abacaxi. Tem água de côco também, mas essa é vendida em copo descartável. O pequeno 2 reais e o maior 3.

Atrás no museu do Olho, de Niemayer- o museu mais lindo que eu já vi na vida, tem uma praça, onde as pessoas levam os cachorros no domingo pra se confraternizar. Eu fui lá uma vez, e é uma farra. Um monte de cachorro, de um monte de raça diferente se esbalando de felicidade, correndo, solto, brincando com os donos e com outros cachorros. Tinha um dog alemão lá, lindão, preto, correndo átras de um disco que o dono jogava, desfilando no meio de todos os outros e passando pelo meio do povo. É coisa de ficar na memória.
Fora o detalhe que a entrada no museu, pra ver obras maravilhosas e gente antiga e clássica, e muita gente nova e boa, da América Central e Latina, é só 4 reais a inteira, coisa difícil de encontrar pelo Brasil afora.

As influências polacas e árabes são percebidas na arquitetura. Casinha de madeira tá presente em todos os lugares. Grandes, pequenas, ricas ou pobres, elas estão lá, resistindo com suas eiras e beiras. Ao do Largo da Ordem- o Recife Antigo daqui, tem uma mesquita, imensa, fora o memorial árabe e outras coisas e te remetem a quem esteve e está por aqui.

A comida é uma mistura de tudo, e ai, você encontra do prato típico alemão, à tapioca e acaraje, democraticamente oferecidos.
As pessoas andam na rua de relógio, com jóias, com vidro aberto, e até atendem e falam no celular enquanto andam na rua. Coisa super normal, mas para mim que vivo a paranóia do assalto de Recife, fico impressionada.

A programaçao cultural e audiovisual daqui é que ainda é meio incognita pra mim. Tá rolando a Oficina de música, que é o mês inteiro com atrações e atividades, mas, nesse caso, a maioria é paga. E nesse ponto, meu querido, a prefeitura popular do meu Recife, não tem pra seu ninguém, é um orgulho para quem ama nossa terra.

Pronto, acabada a descrição da cidade.
=)

sábado, 22 de janeiro de 2011

Inveja de escrever

É medíocre, mas esse sentimento de só querer escrever quando se estar longe assombra muitos adoradores das palavras. É que essa gente gosta de sofrer pra tudo ficar mais charmoso, aí, se você tá feliz e não tem capacidade de fazer um samba contente e suado, prefere ficar caladinho pra não ser sem graça.

Eu mesma, não queria passar por isso, falei muitas vezes que não pararia de escrever- e incentivo não me faltou. Mas faltava outra coisa, mais perto, eu fico tímida. E isso é coisa que só quem conhece mesmo sabe como é. Me peguei vagando a pensar nestes motivos diversas vezes, e a coisa de falar pra quem tá perto me encolhe, amedronta.
Só que hoje foi um dia depois da insônia, insônia daquelas que você nem pisca o olho, que as pulilas se dilatam e a noite fica clara. Aí, você pensa em tudo, porque o cérebro deve colocar outras partes-nunca dantes utilizadas- para manter a pessoa acordada, tentando dormir por mais de 5 horas.
Você pensa no dia, reza umas 4 vezes cada oração, agradece, pede desculpa, olha para todos os lados. Análisa a decoração do quarto, levanta, lava o rosto. Pega o celular, pensa no livro que tá lendo, num ótimo tema pro mestrado, nos amigos que está com saudade, da agenda de afazeres da semana que vem. Levanta, vai na sala, brinca com o cachorro, escuta barulhos estranhos, pensa em assombração, em macumba, em mandinga, é uó.
Mas hoje, nesse dia depois da insônia, eu acordei com sono, cheia de idéias, e de vontade de fazer o que tava de lado. E hoje, logo hoje, voltei também a ler o blog de alguns amigos. E foi Rafa Moreno- do elessabemdemais, falando de Arthur, de Mariana e da mãe dele que me deram inspiração pra escrever esse meu recomeço.
Rafa é massa. Mas um daqueles amigos que resolvem ir pro mundo e não voltam mais. Porque infelizmente Recife é muito pouco pra quantidade de talento que produz.
Rafa me ajudou- e nem sabe, a voltar a postar, e eu espero que logo, logo, Recife seja capaz de segurar a gente, feliz, satisfeito, seguro e sorridente, por mais tempo que as prévias e o Carnaval.
Até mais.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Entre paredes

- Terra à vista,
disse o marujo a avistar aquelas terras.

Eu por aqui,
ando em terras de ilha,
ilhas alheias e de boa guardia.
Porém sem pernas para atravessar.
Nos cantos vejo madeiras e cores,
ao lado, amores.
Dentro, quem sabe.
Tudo é tão úmido por essas bandas, faça chuva, faça sol, dois pra lá, dez pra cá, quem souber de onde vem o vento, morre de trovoada.
Dos mil climas em um dia só. Esse lugar mais cabeça de moça, muda tanto, essa indecisão. Mas quando bem se sabe, indecidir é decisão, pq em águas calmas não tem graça velejar.

domingo, 29 de agosto de 2010

Por onde andei.

Hoje é meu último domingo no Canadá. Terça-feira pela manhã to embarcando pra uma curtinha temporada de aventuras em NY. E mesmo depois de deixar o blog no limbo quase 2 meses é essencial vir aqui deixar algumas palavras.
Canada pra mim foi bom e ruim. Quero lembrar, e esquecer, pra sempre. Mas aprendi, e cresci, muito mais que eu esperava.
De milhões de possibilidades e expectativas, a viagem virou pesadelo. Conheci bruxas(landladies), fui atacada por monstros(bedbugs) mas também encontrei fadas madrinhas, e muitos, muitos companheiros de jornada.
Vi um Canadá que ninguém tem coragem de contar quando volta,- mas todo mundo vê e quer esquecer. Porque a gente só conta o que quer deixar na lembrança.

Vi e vivenciei muitos problemas numa Toronto que abriga cerca de 2,5 milhoes de pessoas.
Enquanto gastava horas tentando entender e capturar um pouco disso que eles chamam de sentimento (só) do eu. Fiquei indignada com o comodismo disfaçardo de pacifismo da população e o desrespeito deles com eles mesmos.
Cansei de reivindicar que alguém levantasse para um idoso ou grávida sentar no metrô. Falava mesmo, alto, pra ver se alguém tomava vergonha na cara. Mas algumas vezes funcionou.
Fiquei irritadíssima com o excesso de regras e proibições, mas também usufrui da sensação de segurança que isso trás. Vivi na pele a exploração da mão de obra informal e ilegal. E me senti uma mulher bem mais oprimida e coisificada do que jamais senti no Brasil.
Paguei 21% de imposto em cima de tudo. Paguei 22 dolares por mês a mais do que pagaria morando em NY para andar num transporte público que tem 2 linhas de metrô, quebra todos os dias e fecha às 1:30h da manhã(fatos verídicos).
Escutei bem mais Coreano, Japonês, Mandarim(China), Espanhol, Hindu(India), Urdu(Arábia Saudita), Italiano, Português(de Portugal e do Brasil), mas bem mais mesmo do que gostaria e ainda pior, bem mais que Inglês.

Fique pasmo/a, mas mais de 100 línguas são faladas cotidianamente em Toronto.
66% da população canadenses é de recém-imigrados. Mais de 50% não nasceram no Canadá. 59% são idosos e mais de 42% são o que eles chamam de vísivel minoria(não me pergunte o que, diante desse quadro, é minoria pra eles). *Dados: City of Toronto.
Se assumirmos que um "autêntico canadense" seria alguém cujo seus antescendes de 2º grau nasceram no Canadá(no caso, seus avós), eu digo para você que em 6 meses aqui eu não conheci ninguém, eu disse nínguem que é "canadense de verdade" e não foi por falta de otimismo ou curiosidade.
Não encontrei uma fonte registrada para afirmar isso, mas é de conhecimento comum aqui que mais de 60% da população é de asiáticos. Pelo olhometro, o achometro seria ainda mais um pouquinho, os olhinhos puxados dominam e sustentam a economia desse país.
Por quê? A história é bem antiga, desde as primeiras linhas de trem- os canadenses costumam dizer que para milha de linha ferrea nesse país, pelo menos um chinês morreu. Sim, eles trouxeram chineses para trabalhar praticamente de graça e para ascender explosivos sem fio de longa distancia, eles colocavam chineses pra explodir junto com as dinamites que abriam os tuneis e montanhas. Na segunda guerra, os japoneses que viviam aqui há décadas foram colocados em algo como campos de concentração e todos os seus bens foram capturados pelo governo. Depois que a guerra acabou, deram uma passagem de ida pra Japão, ordenando eles voltarem pro país que nunca foram.
Nos dias atuais, eles não precisam de visa pra vir e sustentam o setor de serviço informal, junto com os indianos. Já os brasileiros, portugueses e outros latinos, são a mão de obra da construção civil.

A impressão que eu tenho daqui é que todo mundo que quer ficar ou é ilegal, ou tá "aplicando" ou é "récem-aplicado". Longe de mim dizer se isso é bom ou ruim. Mas é de se ressaltar que nesse lugar, com tantas regras e leis. No ponto imigração e trabalho, todos fazem vista grossa enquanto a galera trabalha de 12 a 14 horas por dia.(e viva a mais valia)

Passei 5 meses aqui, e aprendi uma história além de iglus, neve e carpinteiros.
Passei 5 meses aqui, e descobri que a única comida típica do Canadá é o Poutine, batata-frita com queijo mussarela derretido em cima e um molho de tomate. Aprendi que dia 24 de maio é dia da Victoria(a rainha da Inglaterra) mas nínguem se importa o por quê. Aprendi que quem é de Okinawa fala uma língua e tem um cultura completamente diferente que o Japão. Que ambos(Koreia e Japão) tem certa rejeição a China. E que Soju é a bebida típica da Korea.

Aprendi mais um monte de coisa, mas principalmente aprendi sobre muitas culturas e como é mágico quando você ultrapassa a barreira do diferente, do preconceito e da rejeição e se vê apaixonada em conhecer outras culturas. Transformar e ser transformado pela cultura do outro. Sorrir, honrar e abraçar cada um do seu jeito. Vi uma coreana, nossa primeira roomate, quase morrer quando Fabi foi abraçar ela no dia do seu aniversário em Maio. E hoje, Jon Yun me deu beijo na bochecha e chorou no abraço de despedida. Me vi curvando para meus amigos coreanos quando nos despediamos, como um ato de respeito e de agradecimento pelos bons momentos em que passamos juntos.
Conheci a Aoi, uma japonesa doce e carinhosa que surprendeu pelo seu calor humano.

Não imaginei que ia ficar triste de sair daqui, mas to derramando lágrimas desde que começei a escrever esse texto. É impossível esquecer todos os momentos de desespero que passei aqui, mas é inaceitável dizer que foi apenas isso. É hora de começar a viagem de volta. E em tempo de ir, levo um coração carregado de saudade.